Aposentadoria Mental
Em direito, a aposentadoria dar-se-á compulsoriamente, por invalidez ou pelo preenchimento dos requisitos de idade+contribuição. Proventos significa, numa linguagem leiga, benefício (valor em dinheiro) que é devido mensalmente àquela pessoa. Todas essas modalidades levam em conta o tempo de contribuição – ou seja, a quantas andam suas contribuições para o regime de previdência a que está vinculado – e não o tempo de serviço.
Isso significa que não importa quanto você trabalhou a vida toda, se não houver contribuído para a já quase falida Previdência não te resta direito a nada, apenas esperar a morte (na miséria). Analisando minha própria vida e o quanto eu ficaria velha e sem forças para aproveitar a aposentadoria depois de anos a fio trancada num quarto, sentada e falando sozinha com a Constituição, surge um lapso de intriga na minha mente: laboramos na jornada da existência contribuindo mensalmente para a previdência das realizações ou estamos apenas deixando passar e acumulando tempo de serviço ?
Nesse contexto, tempo de serviço é o amontoar de anos sem planejamento ou inovação. É quando se acredita que quando acontecer isso ou aquilo, tudo mudará, ou você viverá melhor, mas metas concretas para atingir seus anseios não existem, os desejos restringem-se às vontades, hipóteses e crença que um dia, seja lá qual dia for, talvez mais velho, você tenha força para lutar pelos objetivos.
Torna-se inativo aquele que não pensa, não planeja, não inova, não lê, acha tudo difícil demais. Aquele que passa pelos anos como se eles sempre fossem existir e sempre houvesse tempo para se arrepender e fazer no futuro o que você sabe que deveria estar fazendo hoje.
Também se torna inativo aquele que é sempre igual, que vive tanto em função dos outros, ou simplesmente de ninguém, que mal parou para pensar no compromisso consigo. Aquele que possui a sutil sensação que poderia ter buscado mais, ter sorrido mais, ter feito mais amigos, aprendido mais sobre o mundo além do quadrado ao seu redor. Talvez se tivesse menos medo, teria ido mais longe, se tivesse menos preocupação com a opinião alheia teria sido um ridículo muito mais feliz. Contribuir para a vida, no meu humilde entendimento, significa dar-se oportunidades. Ser mais ousado, fazer algo mesmo que ninguém acredite que você é capaz. Dar mais chance à realização dos seus sonhos do que à acomodação que engessa seus braços e pernas. Inclui o depósito diário pela luta das metas e das simples coisas que nos fazem bem.
Minha intenção com essas divagações simplórias é que tal qual nosso sistema legal, nossa vida espera sua contribuição para a previdência das realizações. Não se engane, esperar que o tempo de serviço na jornada da existência te dê o menor salário mínimo de felicidade nos seus últimos anos é pura ilusão.
Assim, desejo que eu e você possamos contribuir mais, aprendendo que depositar diariamente alguma quantia em nome do nosso crescimento individual é assinar um compromisso com o prazer de viver bem.
Que sua aposentadoria nessa encarnação seja doce!
Larissa Braga